26 maio 2010

Ar puro*

Gravei em ti o nome.
Não sei quantos anos passaram. Muitos.
Nem sei, ao certo, o que escrevi,
se o nome próprio sem apelido,
se vice-versa, ambas, sei lá.
Em tua casca,
provavelmente,
uma caligrafia perdida.
Mudei de letra quantas vezes mudei de vida.
Mudei-me à imagem de outros até descobrir que,
amor de mim,
não tinha.
Só depois desse me amou alguém.
E eu... também.
Um amor que me adiou a velhice,
feito de gargalhadas e arrepios,
calores e frios nos olhos
e decisões aos molhos
que me pareceram promissoras,
na hora.
Não agora.
Que me resta um arrepio na memória do tacto.
Este estar triste inacto que,
só então,
é esboço de sorriso.
Cheiro de hálitos quentes,
som de gemidos clementes de "não pares" e "pára".
E todos os dias,
num outro leito.
Adormeço com o quente aroma do teu cabelo.
E acordo na certeza que o meu destino é vê-lo.
Um dia......
em desalinho no meu peito.
Enquanto não,
procuro-te a ti.
No início,
sem sucesso.
Marco o trajecto para o regresso.
Densa floresta, jardim.
NÃO!
E lá estás.
Envelheces-te.
Mas continuas bela.
Abraço-te.
Mas já não te abarco.
Guardo na roupa esta mancha de resina que me deste.
E leio-me fundo no teu tronco agreste.
E decido que é a ti que amo.
A mais ninguém.


Texto: Nuno Miguel Dias

*nos meus pulmões.
Depois de um dia (no meio das árvores) a respirar natureza

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